domingo, 4 de janeiro de 2009

NA EXPECTATIVA DO ENSAIO GERAL DE FAUSTO



A ópera FAUST que vai ser levada à cena no Teatro de S. Carlos em Lisboa cujo ensaio geral é no dia 6 de Janeiro de 2009 é de Charles Gounod (1818-1893). Portanto, embora ainda contemporâneo de Goethe, quando Gounod faz a adaptação do Fausto de Goethe para a ópera de 1856-1858, já este havia morrido. A ópera a cujo ensaio iremos assistir é em cinco actos e baseado na primeira parte da obra de Goethe.
Sobre a obra de Gounod, a encenação e a ópera como obra de arte total, teremos oportunidade de falar. Porém, antes de mais podemos recapitular um pouco da obra literária, que deu origem a esta obra de arte total a que chamamos Ópera (obra em italiano).

Fausto de Johann Wolggang von Goethe é uma obra trágica inteiramente em diálogo, concebida mais para ser lida do que ser representada. Primeiro foi publicada em duas partes: Faust: der Tragödie erster Teil (Fausto: Primeira parte da Tragédia) e Faust: der Tragödie zweiter Teil (Segunda parte da Tragédia). Trata-se simplesmente da mais famosa obra de Goethe e está considerada como uma das grandes obras da literatura universal.
A primeira parte foi terminada em 1806 e publicada em 1808. Foi depois editada uma revisão em 1828-1829 tendo sido a última publicada pelo próprio autor. Previamente, havia aparecido um versão parcial em 1790 intitulada Fausto, um fragmento.
Goethe terminou a escrita da Segunda parte de Fausto em 1832, no ano da sua morte, esta constituiu a principal ocupação de Goethe nos seus últimos anos e só apareceu postumamente em 1832.
As principais personagens da Primeira parte são:
Heinrich Faust, um estudioso cuja vida está provavelmente baseada na de Johann Georg Faust, ou no relato dramatizado da Lenda do Doutor de Paris, feito por Jacob Bidermann e intitulado Cenodoxus.
Mephistopheles, um demónio
Gretchen, o amor de Fausto (Goethe também lhe chama Margaret)
Marthe, vizinha de Gretchen
Valentin, irmão de Gretchen
Wagner, criado de Fausto

PRIMEIRA PARTE
A primeira parte é uma história complexa. Situa-se em múltiplos lugares, o primeiro dos quais é o céu. Mefistófele faz um pacto com Deus: diz que pode desviar o ser humano favorito de Deus (Fausto), que se esforça em aprender tudo o que pode ser conhecido, longe de propósitos morais. A cena seguinte tem lugar no estúdio de Fausto onde o protagonista, desesperado pela insuficiência do conhecimento religioso, humano e científico, se envolve com a magia para alcançar um conhecimento infinito. Suspeita, contudo, que o seu intento não está obtendo resultados. Frustrado, considera o suicídio, mas evita-o quando escuta o eco do começo da época pascoal. Vai dar um passeio com o seu ajudante Wagner e é seguido por um cão vulgar.
No estúdio de Fausto o cão transforma-se em diabo. Fausto faz um acordo com ele: O demónio fará tudo o que Fausto quiser enquanto estiver na terra e em contrapartida Fausto servirá ao demónio na outra vida. O contrato incluía o seguinte: Se durante o tempo em que Mefistófeles está servindo a Fausto, este em razão de algo recebido quiser viver eternamente, Fausto morrerá instantaneamente.
Ao pedir-lhe o demónio que assine o pacto com sangue, Fausto compreende que este não confia na sua palavra de honra. No final, Mefistófele ganha a disputa e Fausto assina o contrato com uma gota de sangue.
Na continuação, Fausto conhece Margaret (também chamada Gretchen ou Margarida). Sente-se atraído por ela e com ofertas de jóias e ajuda de sua vizinha Marta, o diabo leva Margaret aos braços de Fausto que a seduz.
A mãe de Margaret morre por culpa de uma poção adormecedora que a filha lhe deu para gozar maior intimidade com Fausto. Gretchen descobre que ficou grávida. Seu irmão acusa Fausto e desafia-o e acaba morrendo ás mãos de Fausto e do diabo. Margaret asfixia o seu filho ilegítimo e é condenada por assassinato. Fausto tenta salvá-la da morte libertando-a da prisão, mas como não o conseguiu pediu ajuda ao diabo. Margaret, presa da loucura e negando-se a escapar morre nos braços de Fausto.

SEGUNDA PARTE
A segunda parte é rica em alusões clássicas e a historia romântica da primeira parte é esquecida. Fausto desperta num mundo de magia para iniciar um novo ciclo de aventuras e objectivos. A peça consta de cinco actos cujos episódios são relativamente independentes. Cada um deles com um tema diferente. No final, Fausto vai para o céu embora tendo perdido a aposta. Os anjos dizem no final do quinto acto, " a quem sempre se esforça com trabalho podemos resgatar e redimir."

RELAÇÃO ENTRE AS PARTES
Durante a Primeira parte, Fausto vai sentindo insatisfação, mas a conclusão derradeira da tragédia e o resultado dos pactos só se revelam na Segunda parte. A Primeira parte representa o pequeno mundo e tem lugar no terreno de Fausto o meio temporal. Em contraste, a segunda parte tem lugar num mundo mais amplo ou macro cosmos.

ATRAVÉS DOS ANOS
A história de Fausto tem inspirado um enorme número de obras literárias, musicais e pictóricas e tem tido milhares de interpretações tanto do ponto de vista sociológico como literário, assim como outros. A obra constitui uma parábola sobre o conhecimento científico e religião, paixão e sedução, independência e o amor, entre outros temas. Em termos poéticos, situa a ciência e o poder no contexto de uma metafísica moralmente interessada. Fausto é um científico empírico que se vê forçado a enfrentar questões como o bem e o mal, Deus e o diabo, a sexualidade e a morte.
No quarto livro da sua principal obra, Schopenhauer elogiou o retrato que Goethe faz de Margaret e do seu sofrimento. Considerando a sua visão "da salvação através do sofrimento", o filósofo citou este aspecto de Fausto como exemplo de um dos caminhos para a santidade.