domingo, 18 de janeiro de 2009

ÉVORA - A FUNDAÇÃO O TERRITÓRIO E A ROMANIZAÇÃO

Sobre o território onde se situa Évora, sabemos que na época pré-romana a Península Ibérica era habitada por uma miscelânea de povos. A região hoje circunscrita ao Alentejo Central seria dominada pelo povo céltico, e segundo Manuel Maia, a linha do Tejo a norte e o Guadiana a sul, seriam as grandes linhas de fronteira entre a área das civilizações céltica, cónia e lusitana1. Integrados num sistema confederativo estavam ainda os Turdetanos os Hermínios da Serra da Estrela e os Vetões, da actual Estremadura espanhola o que faz deste território um verdadeiro mosaico étnico-cultural.
Quanto à fundação de Évora são muitas as opiniões, desde os que atribuem a sua fundação numa época tão remota quanto o III milénio a.C., até aos que defendem que foi fundada cerca do ano 700 a.C. . O que parece ser certo é que a presença humana pode ser atestada pelos povoados do neolítico e pelos monumentos megalíticos dispersos pela região de Évora, desde o VI milénio a.C. . Não obstante, já não parece ser certo que tenha havido um povoado primitivo pré-romano no local onde se situa hoje a cidade de Évora e do qual seja sucedâneo.
Podemos especular sobre uma fundação anterior à romanização, mas uma vez que carece de evidência arqueológica, não se trata de uma realidade histórica, mas de uma mera hipótese – ainda que plausível, devido à existência de outros povoados próximos – que os romanos tenham ocupado uma cidade pré-existente. Isto leva-nos a pensar que o lugar poderia ter sido escolhido pelos romanos para a implantação duma cidade completamente nova, ou inicialmente escolhido para o estabelecimento de um acampamento militar, resultando depois numa cidade.
Ainda assim, de acordo com o que diz Sérgio Luís Carvalho, acerca das marcas na ossatura e no tecido urbano das cidades, é evidente que à medida que recuamos no tempo, “mais esbatidas se tornam essas marcas, de forma que a influência celta é mais débil que a influência romana, e esta, por seu turno, menos visível que a muçulmana.” Contudo, Uma forte razão para isto acontecer não é só a passagem do tempo, mas também porque observamos um fraco fenómeno urbano nos povos pré-romanos, sobretudo devido às actividades agro-pastoris a que estes povos se dedicavam, o que, embora concorra para uma sedentarização e consequente aglomeração em povoados permanentes, “não garante o surgimento de núcleos populacionais fortes”. Outra razão apontada por Sérgio Carvalho, é a “ausência de um estado celta fortemente centralizado” que contribui para a não existência de estruturas políticas sólidas a nível supra-regional, sendo um entrave ao aparecimento de uma rede bem organizada de grandes núcleos urbanos.
Assim, da presença pré-romana fica a memória e alguns vestígios de um ou outro castro. Quanto à fundação de uma vila ou cidade fica por vezes a ideia disso, apenas sugerida pela antiga denominação, mas pouco mais do que isso. Todavia, isto mudou com a ocupação romana. Os romanos tendiam a fixar-se em locais cómodos e propícios para a exploração agrícola, surgindo as villae como grandes granjas dedicadas à agricultura. Estas espalharam-se por todo o território, tornando-se o germe e génese da fundação, – embora nem sempre – da maioria dos nossos povoados, vilas e cidades. E, este também poderia ter sido o caso de Évora.

TEMPLO ROMANO DE ÉVORA

É consensual que o templo romano de Évora tem sido até hoje o ex-libris da cidade. Se quisermos abordar a origem, a evolução e a história da cidade ou a romanização da região e do país é incontornável falar do templo romano de Liberalitas Iulia Ebora.
Assim, não cremos ser necessário fundamentar o interesse por esta obra romana, aqui encarada simultaneamente como objecto arqueológico e como obra de arte. Basta-nos ter em conta que a cidade de Évora é Património da Humanidade e que grande parte dos estudos que analisam a cidade sob o ponto de vista da ocupação romana, têm a ruína do templo como vector principal na sua abordagem.
Apesar de estar parcialmente em pé, trata-se de um dos templos romanos da Hispânia melhor conservados. O magnífico estado de conservação das suas ruínas, só pode ser explicado pelo amplo e contínuo uso ao longo dos séculos, tornando evidente que esta cidade teve um passado relevante.
Por isso, muitos se aproximam destas ruínas para o estudo da ocupação romana tanto em Portugal como em toda a Península Ibérica. Porém, quando se investiga verifica-se, que as informações para lá de serem escassas, são na maioria dos casos repetitivas. Exceptuam-se alguns artigos de natureza académica e arqueológica, que fazem uma análise mais aprofundada. Foi especialmente com base nesses artigos que fizemos uma leitura analítica do templo romano do “fórum”, tendo como finalidade a sua reconstituição em maqueta.
Com efeito, já seria satisfatório se a produção duma maqueta e a produção deste comentário acerca dos aspectos mais destacados que estão relacionados com este objecto/espaço em sentido histórico e artístico, fizer despoletar o interesse dos eruditos e das autoridades para a produção de uma publicação que seja suficiente informativa e esclarecedora para os que desejam aprofundar os seus conhecimentos. Se é verdade que turistas, arqueólogos, historiadores e público em geral já têm suficiente interesse pelo templo, também é verdade que não dispõem de um livro específico sobre o monumento.
Temos consciência que as soluções adoptadas para algumas questões não cabalmente esclarecidas ou cientificamente estabelecidas poderão ser contestadas, mas tratam-se de proposições, sendo de admitir nestes casos outras propostas de solução, que se provem mais fundamentadas. Os desafios implícitos numa reconstituição não nos impediram de fazer propostas e prosseguir na execução da maqueta, antes serviram como motivação adicional para avançar, considerando que pelo menos poderia propiciar uma discussão construtiva em direcção à “verdade” histórica.
As principais questões que se colocam quando falamos do templo são: Quando foi construído e por quem? A que divindade era consagrado? Era pré-existente ao espaço urbano, ou foi construído como parte da praça designada como fórum numa fundação ex-nihilo? A resposta a estas questões determinam ou pelo menos interferem na reconstituição arquitectónica a que nos propusemos e todas se relacionam com a cronologia e a romanização do território. Com este artigo iniciamos uma série de artigos relacionados com Évora, o templo e a romanização da cidade.