quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Eu e a Pintura

Embora só consiga lembrar-me de meio século da minha existência, sei que me deram o nome de Rui Dias há 53 anos. Os primeiros três anos são, o “antes da memória”, uma espécie de pré-historia da consciência de mim mesmo. Contudo navego na corrente do tempo antes dessa data, sou filho do herói vencedor da corrida no tapete uterino, e todos os meus ancestrais são vencedores. A minha história é similar à da pintura, porque depois da junção de duas partes geneticamente carregadas e por um processo de cissiparidade, dividi-me e subdividi-me, apenas para me acrescentar, daí que, sou apenas uma diferente mistura de uma bagagem genética e natureza antigas que se somaram.
Também na pintura, os diversos meios e espaços de representação podem ser novos ou velhos, mas não se excluem, apenas se somam, enquanto que os efeitos e os objectivos são semelhantes. Considerando que desde há milhares de anos que os mesmos processos bioquímicos se encontram na base da existência humana, somos – ela e eu, simultaneamente primitivos e contemporâneos.
No presente, que é apenas a passagem estreita na ampulheta do tempo temos tido uma movimentação pendular entre a figuração e a abstracção, e os processos que nos urdem produzem uma incansável repetição do mesmo tema, com variações. Somos a soma de experiências e repetições, mas com meios e sentidos modificados. Temos a necessidade de um mesmo compromisso que resulte num equilíbrio entre a abertura das fronteiras e a preservação da identidade.

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