quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

D'ASSUMPÇÃO - ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E ESTÉTICO

Na continuação do artigo anterior e tal como prometido aqui estamos nós para falar do enquadramento histórico/estético do artista e da obra.

D'assumpção, em 1946 partiu para Lisboa. Naquela época, havia em Portugal duas correntes estéticas por onde se poderia começar: o neo-realismo e o surrealismo. Do que temos falado sobre a sua personalidade pode inferir-se que o surrealismo era o movimento no qual podia encontrar o seu amor pelo sonho e a sua procura do Absoluto, devendo sobretudo fasciná-lo o propósito nele implícito de mudar a vida. Portanto, foi pelo surrealismo que começou, porém, esta actividade, iniciada em 1946/47, rapidamente resultou no seu internamento num manicómio, pois no entender dos seus familiares, se ele pintava assim é porque estava doido, e o lugar dos doidos não é a liberdade mas o internamento. Assim, havia que tomar outra acção – portanto, destruíram todos os quadros deste período.
Este internamento não é referido por José Augusto França, que se limita a dizer sobre o D’Assumpção desta época:
Manuel D’Assumpção (1926-1969), jovem isolado em Portalegre, realizou, cerca de 46-47, uma larga série de quadros surrealistas, destruídos pela família. Uma «homenagem a Eluard», de 55, foi, já depois de larga estada em França, uma recordação desta fase, com a sua tonalidade acentuadamente romântica. Após novo período parisiense não figurativo, que mencionaremos, uma última fase da sua obra realizada na Alemanha retomará, com curiosos vectores futuristas e de lembrança de Max Ernst, valores de poética surrealista.”[1]

Foi especialmente difícil para ele, que ainda não estava recomposto de traumatismos anteriores, suportar este internamento. Por conseguinte, deixa de pintar e, assim que pôde fugiu para o estrangeiro, vagueando pela Europa durante meses, especialmente pelo norte de França. Foi durante estas viagens sem destino, que recorda a infância martirizada, bem como as humilhações no manicómio e os vexames que a ignorância, maldade ou estupidez lhe havia infligido, convencendo-se aos poucos de que o seu lugar não é neste mundo. É a partir de então que o seu destino parece ter sido traçado: Uma constante fuga à realidade, ou uma desesperada tentativa de ascese para um Além redentor em que acredita, já que não acreditava que a vida pudesse ser apenas isto, porque para ele, esta vida não passava de um vão e injustificado estar aqui. A vida é para ele sem sentido e não passa de um tumulto transitório.
Não foi por acaso que decidiu pôr termo à vida no dia em que o homem pisou a Lua pela primeira vez, ou numa rua com o mesmo nome dele, pois Assumpção ou Ascensão, estão intimamente ligados com a ascese que sempre procurou, ou com as doutrinas da ressurreição ou sobrevivência após a morte. Na verdade, a sua ânsia de evasão é tão grande que mais tarde tudo lhe serve para a realizar, desde o Tarot e a Cabala até à mística pitagórica dos números. O que importava mesmo era fugir, fugir sempre, fugir de qualquer maneira. Fugir e divagar no espaço cósmico, no imenso mundo que está para além do nosso mundo mesquinho, procurando descobrir as leis secretas que o comandam, na esperança que este conhecimento lhe proporcione a visão divina.

Na verdade era um crente, contudo, sendo crente, como se explica o horror que sentia pela vida que segundo os crentes é obra de Deus? Talvez nos ajude saber, que o seu tipo de literatura favorita era muito próxima do gnosticismo, hermética. Em razão destas preocupações transcendentais e místicas inscrevia o número 7 em quase todos os seus quadros, que segundo a mística gnóstica, designa o que é imóvel e imutável. Numa carta ao seu amigo Figueiredo[2] diz o seguinte:
Têm-me feito pensar a invenção que o meu caríssimo Dr. Encontrou. Eis o que prendeu a atenção: 7D. O significado esotérico da letra D é na sua expressão numérica (alfabeto hebraico) 2. O número esotérico do nome D’Assumpção é 149, que será divisível por 21 (número dos Arcanos maiores do Tarot) de forma que ao realizar a expressão mística do número encontro isto: 149+21: -02 + -7= 9.
Ora 9 nos Arcanos maiores é o Eremita, o que sensivelmente se encontra expresso na minha pintura. Sou no melhor dos conceitos, o número 9 formado por 7 mais 2. É muitíssimo interessante que a sua solução de letras e número – 7D – se torne um termo cabalístico perfeito. Isto para um crente dos velhos temas místicos é muito importante. Obrigado, pois, por esta solução que me faz lembrar uma máxima do Conde de Saint-Germain. É natural que a vá aplicar nos meus futuros quadros.”
Por outro lado, Manuel D’Assumpção confrangia-se do facto de ser autodidacta, por isso quando em 1947 com 21 anos partiu para Paris, e em 49 ainda lá se encontrava, procura aperfeiçoar-se tecnicamente com Fernand Léger, tendo estudado depois História da Arte com Jean Cassou. Estudou também na École du Louvre. Conheceu Atlan e Hains, pintores líricos, antes de voltar para Lisboa, onde contactou com o poeta António Maria Lisboa[3] que torna a sua única amizade definitiva e tutelar e de quem pinta um retrato.
Regressa a Portugal enquadrando-se no movimento surrealista. Em 1952 encontra-se em Portalegre, contudo, a morte do poeta António Maria Lisboa em 1953 deixa-o profundamente abalado e isola-se em Portalegre, onde realizou para um café local o quadro que atrás referimos, "Último Bailado" - Homenagem a Paul Éluard (1955). No ano da realização deste quadro, o pintor assinava D’Assumpção Rosiel. O quadro apresenta uma paisagem de horizonte longínquo com objectos estranhos.
Assim, embora os óleos da primeira fase tenham desaparecido, entre esta fase e o “último bailado”, (55) enquadrou-se no movimento surrealista e fez alguns trabalhos, dos quais restam alguns desenhos nalgumas colecções. Isto indica, que embora não fosse um membro destacado do movimento surrealista, ainda assim D’Assumpção fez algumas incursões pelo surrealismo, pelo menos no desenho, pois estes estão datados, e não é difícil chegar a esta conclusão. Apresentamos aqui três desenhos (veja figuras 6-8) de características surrealistas. Um de 1946 e os outros de 1962 e 1963.
Nesta década, de 1946 – 1956 pode dizer-se que o seu pensamento místico está formado e a sua personalidade metafísica definida. Mas o seu misticismo ganhou novo alento quando nesta altura teve a oportunidade de conhecer o gnosticismo.[4]. Descobriu que o catolicismo romano qualificava os gnósticos de heréticos, porque odiavam a vida, mas acreditavam numa realidade supra-sensível, mas este alento recebido contribuiu para quebrar os grilhões que o prendiam ao mundo, dando-se uma evolução espiritual.
A par da evolução da personalidade que acabamos de descrever, deu-se também uma evolução da pintura de D’Assumpção. Mas o que iria ele pintar, e como evoluiria, tendo em conta os factores descritos, bem como as suas viagens pela França, país que onde se processara esta evolução, que iria ele pintar?
Primeiro era preciso assentar ideias sobre a arte e escolher definitivamente o seu percurso na arte. Mas uma coisa não foi difícil de compreender, depois do que vira, ouvira e pensara, o surrealismo não era decididamente o seu caminho. Não obstante as suas afinidades com este movimento poético, eram também muitas as divergências.
Em boa verdade, embora houvesse nele como nos surrealistas a mesma necessidade de negar o mundo real e a mesma revolta contra os limites estreitos, D’Assumpção era deísta, porque tinha a necessidade de acreditar numa Razão Superior, enquanto que o surrealismo é uma doutrina da imanência: para ele não há, não pode haver qualquer esperança extraterrestre. Por outro lado, os surrealistas pretendiam contribuir para o “descrédito do mundo real” através das suas obras, e D’Assumpção o que queria era criar um mundo diferente “esquecendo” este em que vivemos como um sonho mau.
Para ele, era ultrapassado querer desacreditar o mundo real, pois este já estava suficientemente “desacreditado” pelos surrealistas, suficientemente desfigurado por Picasso para que valesse a pena continuar a atentar contra ele. O que era necessário, era voltar a página e encontrar outra coisa, que para ele era a vanguarda e chamava-se Abstracção.

Neste período de 1946 – 1956/57, pouca coisa tinha acontecido em Portugal no âmbito das Artes. António Ferro foi perdendo progressivamente terreno e influência quando confrontado com as exposições Gerais de Artes Plásticas iniciadas em 1946, e terminando em 1956, sendo sabido que estas exposições resultavam de um esforço do Movimento de Unidade Democrática (M.U.D.) afecto ao Partido Comunista Português que se afirmava como uma frente cultural com alguma visibilidade. Nestas Gerais, participavam artistas de várias correntes e gerações, aparecendo tanto tardo naturalistas como neo-realistas, surrealistas e abstraccionistas. Era mais uma forma de contestação e luta política contra o regime vigente, tendo como objectivo principal a unidade e a cooperação. António Ferro foi afastado para o estrangeiro em 1950.

Nestes onze anos as Exposições Gerais de Artes Plásticas só não se realizaram em 1952 por estar fechada a S.N.B.A. que era o local onde realizavam. Assim, estas dez exposições mostraram o que era de mais representativo no campo da produção neo-realista. Enquanto que em 1951 se realiza a última exposição de Arte Moderna. O director do S.P.N./S.N.I para mostrar o seu desencanto com os artistas que expunham em Lisboa, distinguiu dois pintores do Norte, Fernando Lanhas e Júlio Resende com os prémios Marques de Oliveira e Souza Cardoso, respectivamente.
Eram figuras destacadas do neo-realismo, Júlio Pomar, Moniz Pereira, Ribeiro de Pavia, Vespeira, Lima de Freitas etc., enquanto que o grupo surrealista nascido em 1947 era integrado por António Domingues, António Pedro, Cesariny, Fernando Azevedo, José Augusto França, Moniz Pereira, Vespeira e António Dacosta. Cândido da Costa Pinto ficou de fora deste grupo, mas também fazia pintura surrealista.

Em 1949 nasce outro grupo “os Surrealistas” promovido por Cesariny e composto por ele, pelo poeta António Maria Lisboa, Mário Henrique Leiria, Pedro Oom e por Cruzeiro Seixas.
À parte destes grupos mas fazendo ou aproximando-se duma pintura surrealista, estavam Nadir Afonso, Calvet da Costa, António Areal, Jorge de Oliveira, Vieira da Silva e Manuel D’Assumpção.
Para lá do neo-realismo, e do surrealismo, tinha surgido nos anos 40 uma terceira corrente – o Abstraccionismo, esta progrediu durante os anos 50, embora tenha origens mais antigas. Esta corrente singrou nas Exposições Independentes realizadas em várias cidades, com Fernando Azevedo e Vespeira a caminhar para um abstraccionismo lírico de grande originalidade. Esta corrente foi muito divulgada e defendida pela Galeria de Março, dirigida por José Augusto França, que levou a cabo a realização do 1º Salão de Arte Abstracta (1954) apoiando a arte moderna e a vanguarda do Abstraccionismo.

D’Assumpção encontrou na arte abstracta uma linguagem adequada à sua visão filosófica do Universo, e com ela, uma razão capaz de justificar e redimir a própria vida. Na realidade, de 58 a 59 a sua angústia desaparece, e o desânimo deu lugar ao fervor, sendo absorvido por um ímpeto criativo. Agora que se havia desprendido da figuração surrealista, tomou o caminho da vidência e do misticismo e simultaneamente da invenção plástica.

A sua pintura de 1958 apresenta grandes arquitecturas abstractas retalhadas, onde os contrastes de cores e de valores luminosos sugerem dinamicamente uma profundidade pura. Trata-se, numa primeira aproximação, de uma pintura cujo espaço ambíguo está próximo do da pintura da Escola de Paris, nomeadamente a de Alfred Mannessier e a de Bertholle. Em breve D'Assumpção está a conjugar estas arquitecturas com grandes figuras transparentes de intenção cabalística ou com sugestões de esferas e planos dinâmicos, em alusão simbólica ao cosmos. Alguns títulos são indicativos desta ambição poética: Génesis (1958), Mística (1958), Espaço-Deus (l960), etc.

Em 1958 decide abandonar definitivamente Portalegre e regressa a Lisboa, partilhando o atelier de João Fontoura, à rua das Janelas Verdes. Vem disposto a expor, como acontece no Salão de Outono da S.N.B.A., onde apresentou três pinturas e conquistou rapidamente um núcleo de admiradores atraindo de imediato as atenções do público mais esclarecido e ouvindo elogios de Eduardo Viana e de Arpad Szènes. Ainda no mesmo ano é premiado em Vila Real, sendo-lhe adquirido um quadro para o Museu de Arte Contemporânea. Agradecido a Diogo de Macedo, D'Assumpção oferece outro quadro ao Museu. O crítico José Augusto França elogiou-o e reproduziu-o na crítica que fez ao salão de Outono no Diário de Notícias onde reproduzia também o quadro Fuga de Artur Bual, exposto na mesma ocasião. Diz José Augusto França:[5]
“Foi em 58, no I Salão Moderno da SNBA, que Artur Bual apresentou uma pintura monocromática, “Fuga”, especialmente notada. Paralelamente a Bual, foi notada, no salão da SNBA de 58, uma grande composição abstracta de D’Assumpção, que já vimos manifestar-se numa opção surrealista. Com ela, o jovem pintor assumia uma lição parisiense que, melhor do que qualquer colega seu de geração, entendeu e quis entender, com gosto e fidelidade. Esta e muitas outras composições seguintes (que chegaram as ser exibidas no Salon des Réalités Nouvelles de 61) exploravam, com «décalage» mas não sem notável talento, propostas espácio-formais da Escola de Paris do pós-guerra e, nomeadamente, de Menessier. Prémio Sousa Cardoso no Salão dos Novíssimos do SNI, em 60, D’Assumpção deixou obras notáveis neste rumo, resolvendo inteligentemente jogos de formas e espaços, numa superfície fragmentada com vibrações contraditórias. Artista menor no quadro da pintura portuguesa, por falta de verdadeira originalidade problemática (e isso o classifica em categoria diferente de um Vespeira, que abordou problemas semelhantes, D’Assumpção beneficiaria de uma curiosa mitificação, após o seu suicídio em 69.”

Ainda nesse ano, (58) a Associação dos Estudantes da Faculdade de Ciências, animada nisso pelo futuro crítico de arte Rui Mário Gonçalves, tomou a responsabilidade de realizar uma retrospectiva da pintura não figurativa em Portugal. Vinte e dois pintores foram expostos, seis dos quais tinham participado no Salão de 54. Almada caucionava a manifestação com as obras apresentadas na Exposição Gulbenkian no ano anterior e com uma obra inédita, a única que além dessas exporia, como sabemos. Dacosta e Moniz Pereira figuravam com obras mostradas na Exposição Surrealista de 49, Lemos com obras da sua exposição de 52 e ainda outros pintores que bordejavam a abstracção. Em suma, foi possível analisar o panorama da pintura portuguesa abstracta em 60, num álbum então publicado, com vinte e seis reproduções, destacando-se Vespeira, Azevedo, Menez, D’Assumpção, Bual, Lanhas, Almada, Rodrigo e Lemos.
Em 1959, Expõe em Viana do Castelo e de novo em Lisboa e Porto. Em Lisboa convive com Mário Cesariny, com o grupo do “Café Royal” e do “Café Gelo””. Neste ano regressa a Paris com uma bolsa especial da Fundação Calouste Gulbenkian, para a qual o parecer de Vieira da Silva terá sido decisivo.
Na verdade, Vieira da Silva sempre apoiou os artistas que se encontravam em Paris, mas D’Assumpção também nutria muito apreço e gratidão pelo casal de pintores. Isso pode ser confirmado pelo extracto da carta escrita a João Pinto de Figueiredo em 1964, na qual o artista dizia:
“Gostei muito de saber que o Arpad e a Vieira da Silva conservam a opinião que sempre mostraram ter de mim e da minha arte. Ainda bem porque isto é uma razão forte para eu seguir sempre em frente com o respeito religioso que tenho pela minha pintura. Igualmente renovo a minha grande estima e admiração pelo Arpad e pela Vieira. Para mim, nesta pobríssima existência, só há uma cousa que pelo coração e pela inteligência respeito e que são aqueles que se respeitam a si mesmos e que só têm uma face. A Maria Helena e o Arpad pertencem a este número. Da sua humanidade, do seu verdadeiro amor pelas cousas, só podia esperar o que eles disseram.”[6]

D’Assumpção, que tal como a maioria dos pintores que nos anos 50 enveredaram pelo abstraccionismo, era também oriundo do surrealismo. O episódio que relatámos de parte da sua obra que data desse período ter sido destruída, não é de estranhar, vindo de alguém proveniente de um meio provinciano que o não compreendeu. Mas agora em Paris encontra uma linguagem pictórica adequada à sua visão do mundo, impregnada de um certo misticismo e de grande invenção plástica.
Podem ver-se influências da pintura de Vieira da Silva, numa pintura que é tanto arquitectural como musical e muito próximo do “espaço ambíguo”. Parte de elementos abstractos, linhas e cores e pode produzir efeitos de luz, de recuo ou avanço de planos, mas na maioria dos casos não recorre a figuras que permitam identificar particularidades do mundo exterior. É uma concepção de espaço
A Grande Composição” e “A grande Emoção”, por exemplo, são obras que homenageiam respectivamente, a Albinoni e Tchaikovsky. Portanto, não é exagero afirmar que o geométrico, o cósmico e a infinitude dos Abstractos de D’Assumpção, desenvolvem uma espécie de sinfonia, ou uma dialéctica da Música, expressão mental da nossa espécie, quando se projecta no número e na harmonia.
Em 1960 foi-lhe atribuído o prémio “Amadeu Souza-Cardoso” pela sua obra “Espaço-Deus”, que foi posteriormente vendida à Galeria Muratore, de Nice. Nesse ano expõe também em Paris na Galeria Karin Moutet Guénégaud.
Em 1961 partipa no “Salon des Réalités Nouvelles”, Museu Municipal de Arte Moderna de Paris e é eleito membro definitivo deste importante agrupamento, ou Associação artística. Expõe na Galeria Marcelle Dupuis, que veio depois a tornar-se o Centro da Pop-Arte americana em Paris. Expõe também na Galeria Muratore (em Nice) com o Grupo Nova Escola de Paris.
Em 1962 regressa a Portugal onde permanecerá até 1965. Nesse período, realiza algumas das suas obras mais notáveis e, esporadicamente faz alguma escultura. Passa uma temporada em Amarante em casa do seu amigo João Teixeira de Vasconcelos[7]. Expõe no Museu de Amarante e em Lisboa, no S.N.I. Já no ano de 63 termina o quadro “Homenagem a Tchaikovsky
Em Fevereiro de 1965 volta a sair de Portugal. Parte para a Alemanha, instalando-se em Krefeld. Em Julho sai de Krefeld e fixa-se em Oldenburgo. É aqui nesta cidade que encontra o Arquitecto Peter Salomon e a escultora Anna Strakayan, e pinta vários quadros, dos quais de um de grandes dimensões é vendido para figurar no edifício dos Novos Ministérios de Oldenburgo.
É a convite de Peter Salomon que em 1967 se muda para Berlim, onde se instala e contacta o meio artístico berlinense. Nesta altura trabalha intensamente e consegue vender toda a sua produção. Contudo, apesar desse sucesso, procurava incessantemente a perfeição e as suas obras são eivadas de grande poesia e rigor.
No ano de 1968 adoece e em Dezembro regressa de novo a Lisboa. Embora continuando sempre a trabalhar atravessa períodos de grande desalento, e em 69 passa uma curta temporada em Amarante, na casa de Teixeira de Pascoaes, onde pinta dois quadros. Faz ainda uma viagem a Berlim, regressa a Lisboa e projecta uma viagem a Londres. Continua a pintar, mas cansado dessa ânsia de perfeição e de uma sociedade em que não conseguiu encaixar-se, suicida-se no verão de 1969 quando muito ainda se podia esperar da sua carreira artística.

[1] FRANÇA, José-Augusto, A Arte em Portugal no século XX – (1911-1961), Lisboa, Bertrand Editora, Lda, 1991, págs. 395, 396
[2] Carta a João Pinto de Figueiredo, Paris, 19/02/1961
[3] Numa carta a António Pinheiro Guimarães. Paris, 25/04/60 disse: “António Maria Lisboa foi vítima deste mundo de incompreensão, ganâncias e pequenos apetites. Só depois se lembraram dele. Havia paz nas convicções do António Maria Lisboa, mesmo quando lutava contra a pobreza do que o rodeava.”
[4] O Gnosticismo consiste nas doutrinas de diversas seitas dos séculos II e III, cujos iniciados pretendiam conhecimento superior ao da Igreja. Por extensão, toda a doutrina que alega encontrar uma explicação total das coisas por processos supra-racionais ou mesmo racionais.
[5] FRANÇA, José-Augusto, A Arte em Portugal no século XX – (1911-1961), Lisboa, Bertrand Editora, Lda, 1991, págs. 427,428.
[6] Citado do catálogo da exposição na Galeria Ottolini em que J. Pinto Figueiredo conta que Vieira e Arpad Szenes estiveram em sua casa numa noite e teceram elogios rasgados ao artista. A carta do artista, foi uma reacção do artista ao saber disso.
[7] Disse Maria Amélia Teixeira de Vasconcelos, um membro desta família de Amarante em Maio de 2000, por ocasião duma exposição em homenagem a Manuel D’Assumpção: “Amadeo de Souza-Cardoso trouxe-o a Amarante. Julgo que os amigos o fizeram ficar. Entre eles o João. Depois, talvez todo o mistério do Pascoaes ou o encanto desta terra e deste rio que viram nascer António Carneiro e António Cândido, entre outros. Do D’Assumpção ficam sempre o olhar esguio, o gesto limpo, os serenos sobressaltos de quem quer viver a vida toda no mesmo dia. No João encontrou a palavra amiga, a compreensão interessada e até a loucura de viver. No fundo, foram os irmãos que gostariam de ter sido. Se os caminhos até ao encontro foram diferentes, os tempos vividos depois foram de uma vertiginosa mas lúcida realidade. Os dias prolongavam-se pela noite dentro, a noite entrava pelo dia, como se sentissem que o encontro era breve e que a separação ia teimar em chegar cedo.
De repente a Alemanha. A vertigem e o êxtase. Logo a seguir vem o silêncio. Não sei quantas cartas depois, e lá vai o João. D’Assumpção volta tempos depois e o João agita-se. Adivinha já o princípio do fim. D’Assumpção sente-se cada vez mais incompreendido e silencioso. Ainda volta a Amarante, mas, desta vez, já só traz o olhar esguio.”


BIBLIOGRAFIA
FRANÇA, José Augusto, A Arte em Portugal no século XX – (1911-1961), Lisboa, Bertrand Editora, Lda., 1991
FRANÇA, José Augusto, Da Pintura Portuguesa, Lisboa, Atila, Setembro, 1960
FRANÇA, José Augusto, Pintura Portuguesa Abstracta em 1960, Lisboa, Artis, 1960
GONÇALVES, Rui Mário, História da Arte em Portugal, Volume 13, Lisboa, Publicações Alfa, 1986
Catálogo da exposição da Galeria do Palácio Povoas em Portalegre, de 23 de Maio a 18 de Junho de 2000, promovida pela Câmara Municipal de Portalegre
Catálogo da exposição na Galeria Ottolini em 1974D’Assumpção, Catálogo editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1985

1 comentário:

adassumpcao disse...

Obrigado por este estudo, dosmelhores e únicos sérios que vi depois dos textos do saudoso João Pinto de Figueiredo e do que com sinceridade tem escrito o Carlos Garcia de Castro. Uma injustiça histórica a ser reposta pela posteridade - o reconhecimento da obra do meu pai - já que à actual critica não dá lucro! Dizia-me o poeta António Pinheiro de Guimarães com frequência: "o teu pai só será rerconhecido em toda a sua grandeza daqui a dois séculos!..." Espero que não e seja possivel bem mais cedo!!! Bem haja. Alberto D'Assumpção